Uma operação deflagrada na madrugada desta sexta-feira (13), com o objetivo de identificar os responsáveis pela série de assassinatos cometidos em Londrina em janeiro deste ano, prendeu um civil e vários policiais militares. Na ocasião 10 pessoas foram mortas e outras 15 ficaram feridas em tiroteios, após o assassinato de um policial militar em Londrina. Um dos baleados morreu no hospital no dia 10 de fevereiro.
Durante a manhã foram cumpridos sete mandados de prisão temporária, 25 de busca e apreensão e sete de condução coercitiva. Um dos mandados de busca e condução coercitiva foi executado na casa do capitão Ricardo Eguédis.
Por volta das 9h05, o Eguedis chegou à sede do 5º Batalhão da Polícia Militar (5º BPM). Policiais civis carregavam sacolas plásticas com provas a serem analisadas. A imprensa foi mantida durante o tempo todo fora do prédio.
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Era cerca de 11h30 quando os suspeitos saíram da sede do 5º BPM e foram levados ao Instituto Médico Legal (IML) para realização de exame de corpo de delito. Segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), dos sete conduzidos coercitivamente, três policiais tiveram suas funções suspensas, entre eles o capitão Ricardo Eguedis.
Seis policiais militares foram presos temporariamente. Os nomes dos envolvidos chegou a ser divulgado, mas não houve confirmação por parte da Sesp ou do 5º BPM. Um empresário da cidade também foi preso por porte ilegal de arma.
Ocultação de provas
Durante entrevista realizada na tarde desta sexta-feira, o secretário estadual de Segurança Pública, Wagner Mesquita, informou que as investigações ainda vão detalhar se os policiais presos ou convocados a prestar depoimento teriam participação direta nos homicídios. Também foi confirmada que houve ocultação de provas para atrapalhar as diligências.
O secretário também justificou o tempo decorrido entre os crimes e as prisões. "Entendemos o anseio da população, mas o tempo da investigação sempre será o tempo suficiente e necessário para se ter provas concretas, técnicas e que deem respaldo para se proceder uma atividade de condução coercitiva ou mandado de prisão", afirmou.
Investigações complexas
Para chegar aos detidos nesta sexta-feira, a investigação coletou provas de vídeo, áudio e periciais. "São provas contundentes de participação dos indivíduos presos hoje. Também serão feitos novos confrontos balísticos a partir das armas apreendidas na ação de hoje", acrescentou Mesquita.
A série de crimes começou após a morte do policial militar Cristiano Bottino, no dia 29 de janeiro. Imediatamente após as mortes, a Secretaria da Segurança Pública determinou uma força-tarefa com duas fases. A primeira, ostensiva, com o envio de equipes das polícias Militar e Civil para reforçar a segurança na cidade. Neste período, o número de pessoas presas cresceu 41%, houve aumento de 63% na apreensão de armas e 44% mais carros foram recuperados. Houve redução de 43% no índice de roubos.
Paralelamente, outra etapa reuniu policiais civis e militares e da Corregedoria da PM, para apurar com rigor a onda de mortes. A investigação mostrou que após o assassinato do policial militar, uma série de crimes foi cometida em sequência com participação dos policiais militares presos nesta operação. Algumas dessas vítimas tinham passagem pela polícia por pequenos delitos.
Embora ainda não se consiga apontar a autoria dos disparos contra as vítimas, os policiais militares investigados são suspeitos também de alterar os locais de crimes recolhendo, por exemplo, as cápsulas disparadas e até imagens de câmeras - provas que poderiam auxiliar na identificação dos criminosos. "Esta investigação foi e está sendo bastante complexa, por ausência de indícios em locais de crime, de subtração de material que lá deveria estar, e pelo temor de testemunhas em auxiliar a polícia na elucidação. É importante destacar que tivemos um fundamental apoio da Corregedoria da PM desde os primeiros momentos, quando foram percebidas as irregularidades", apontou o delegado-geral da Polícia Civil, Julio Reis.
A investigação apontou ainda fortes indícios de falsos confrontos nos quais os policiais militares, hoje detidos, teriam participado. "Em 12 de março, após o comunicado de um confronto ocorrido entre PM e o autor de furtos em chácaras, na zona norte da cidade, foi constatado que a arma que supostamente o indivíduo usou teria sido plantada por aquela equipe policial que foi atender o local", acrescentou o delegado-geral.
Após exames de balística feitos pela Polícia Científica nas armas apreendidas durante o trabalho de investigação, constatou-se que alguns dos armamentos foram usados na noite dos crimes, mas também em supostos confrontos posteriores em que os policiais presos se envolveram. "O Laboratório de Balística Forense realizou mais de 1.700 confrontos e análises entre os 37 estojos e 48 projéteis que foram encaminhados ao longo da investigação", disse o diretor-geral da Polícia Científica, Hemerson Bertassoni.
Todo o procedimento investigatório foi acompanhado de perto pelo Ministério Público. "O MP destaca que houve participação efetiva da instituição no acompanhamento das investigações e diálogo muito grande com a polícia para que se pudesse produzir provas de qualidade, tanto para se elucidar a autoria quanto para se resguardar os direitos individuais daqueles que estivessem envolvidos", acrescentou o promotor Ricardo Alves Domingues.
Sanções administrativas
A Polícia Militar está instaurando processos administrativos contra os profissionais da corporação envolvidos no caso. "Não existe nenhuma condescendência em relação a atos que não sejam pautados pela atuação legítima daquilo que nossos policiais se propõem a fazer, que é a proteção à sociedade", declarou o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato.
Matéria atualizada às 17h20. (Com informações dos repórteres Vitor Ogawa e Celso Felizardo, da Folha de Londrina, e da AEN).